Humanismo e Antropocentrismo na
arte renascentista*
O
Humanismo foi um termo difundido no
século XV por um conjunto de indivíduos que, desde o século anterior,
esforçava-se por renovar o padrão de estudos das universidades medievais
dominadas por uma cultura clerical. O movimento humanista propõe os studia humanitatis (estudos humanos:
poesia, filosofia, história, matemática e eloquência) como uma forma de
revitalizar os estudos tradicionais. Eles questionam a cultura medieval pautada
numa submissão completa ao reino de Deus e ao poder da Igreja. Elaboram e
divulgam um novo código de valores e comportamentos, inspirados na antiguidade
greco-romana e afinados com os novos interesses de uma cultura urbana,
comercial e, marcada pela ascensão de um novo grupo social, a burguesia.
Uma
preocupação fundamental desses humanistas era com as capacidades físicas e
espirituais do homem, observando-o não apenas como um desígnio de Deus - ou
seja, um plano divino, sem autonomia na vida e no seu destino - mas como um
sujeito de sua história, dotado de poder de criação e ação no mundo natural. O
homem torna-se o centro das atenções desses humanistas e a essa atitude
questionadora sobre as possibilidades criativas e ativas do homem chamamos Antropocentrismo.
A
cultura humanística torna-se a base intelectual, filosófica e artística do
período da história do Ocidente europeu conhecido como Renascimento Cultural.
A Arte Renascentista
Nas
obras de arte do período renascentista podemos constatar uma convergência dos
principais aspectos dessa cultura humanística: a ciência, a filosofia, a história, a técnica, dentre outros. A arte
renascentista espelha os processos de evolução das relações sociais e
mercantis, pois é uma arte de invenção, de inovação e aperfeiçoamento técnico,
ela acompanha as conquistas da física, da matemática, da geometria, da
anatomia, da engenharia e da filosofia. Algumas das suas características
principais são: o antropocentrismo, o naturalismo, o uso da perspectiva, os
estudos anatômicos, os estudos de óptica, o uso da matemática (geometria), a
humanização do divino etc. Os artistas desse período negam os princípios da
arte medieval - arte simbólica com figuras exclusivamente religiosas, feita
para ser um instrumento didático - vista como uma arte estática, inalterável e
sagrada, tal qual a sociedade que ela representava. A arte renascentista, por
sua vez, apresenta uma nova concepção do saber e da relação com o sagrado
presente na sociedade urbana, comercial e burguesa desse período. Por toda
parte tem-se uma nova palavra de ordem: "Viver mais pelo sentido do que
pelo espírito".
*Adaptação do
texto: SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual, 1994. – (Coleção
Discutindo a História).
Trabalho com obras de arte feito em
sala de aula - imagens e principais aspectos
- Contraste
entre a arte medieval e a arte renascentista
Pintura
Medieval
Cimabue. Maria entronizada com o menino, São Francisco, São
Domenico e dois anjos (século XIII).
Têmpera sobre
madeira, 133 x 81 cm.
Galleria degli Uffizi, Florença
1. Ausência da ideia de espaço
2. Desproporção entre as figuras
3. Arte simbólica com figuras exclusivamente
religiosas
Pintura
Renascentista
Raffaello Sanzio. Maria entronizada com o
menino e com santos,
1504-05.
Têmpera sobre madeira, 172 x 172 cm.
Metropolitan Museum of Art, New York
1. Racionalismo
(perspectiva)
2. Figuras proporcionais
3. Naturalismo
- Arte
Renascentista - uma
nova concepção do saber e da relação com o sagrado
Leonardo da Vinci. O Homem Vitruviano, 1492. Caneta, tinta, aquarela e metalpoint, 34,3 x 24,5 cm.
Gallerie dell'Accademia, Veneza, Itália.
Leonardo da Vinci. Estudos da proporção da cabeça e dos olhos. - . Caneta e tinta sobre papel, 19,7 x 16 cm.
Biblioteca Real, Turim, Itália.
Leonardo
da Vinci. Estudos de
anatomia.
1504-6. Caneta sobre papel. 25,3 x 19,7 cm.
Biblioteca Real, Turim, Itália.
1. Antropocentrismo
2. Naturalismo (anatomia)
3. Racionalismo (matemática)
4. Valores da antiguidade Greco-romana (estudos
de Vitrúvio)
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Donatello. São Jorge. 1415-16. Mármore, 209 cm. Museo Nazionale Del Bargello, Florença,
Itália.
1. Humanização do divino (afetos – guerreiro)
2. Naturalismo (anatomia)
3. Valores da cultura Greco-romana (mármore +
monumentalidade)
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Jan
Van Eyck. Retrato de
Giovanni Arnolfini e sua esposa, 1434. Óleo sobre madeira, 81,8 x 59,7 cm.
National Gallery, Londres, Inglaterra.
1. Temática burguesa (mercador)
2. Individualismo (retrato conjugal + assinatura do
pintor)
3. Racionalismo (perspectiva + estudos de óptica)
4. Nova técnica de pintura à óleo