domingo, 9 de novembro de 2014

Povos originários do Brasil II

Os índios no Brasil Contemporâneo


Cinco ideias equivocadas sobre os índios

1º) Índio genérico
- Ideia de um bloco único
=> reduz culturas diferentes a uma entidade supraétnica

 2º) Culturas atrasadas
- Ideia de culturas primitivas
=> despreza saberes indígenas

3º) Culturas congeladas
- Imagem idealizada do indígena
=> negação da “interculturalidade”

4º) Índios pertencem ao passado
- Ideia de que os povos indígenas fazem parte apenas do passado
=> ignora sua atualidade, seus costumes e tradições

5º) Brasileiro não é “Índio”
- Desconsiderar a matriz indígena na formação do povo brasileiro

=> tendência à identificação com o “vencedor”


Estudo de Caso: Ashaninkas



Vídeo “Filhos da Terra”, capítulo 8 da série “Índios no Brasil”.

         O vídeo “Filhos da Terra” é o oitavo capítulo de uma série produzida pela TV escola em parceria com o Vídeo nas Aldeias e o Ministério da Educação. Busca-se apresentar a relação, nem sempre amistosa, entre “índios” e “brancos”. Nesse capítulo podemos perceber como os índios se relacionam com o seu território ancestral, como falam da natureza e como entendem o desenvolvimento sustentável.
         O povo indígena Ashaninka é um bom exemplo desse tipo de pensamento e uso dos recursos naturais de forma não predatória, ou seja, sustentável. No vídeo a seguir podemos identificar os elementos constitutivos da sua visão de mundo, da sua relação com a terra e com a sociedade brasileira da qual fazem parte. 


Obs: caso não consiga visualizar o vídeo, ir para página na internet <http://www.videonasaldeias.org.br/2009/video.php?c=20> 


Ashaninka (“Kampa”) – Rio Amônia – Brasil

- Autodenominação: Asheninka = “meus parentes”, “meu povo”.
- Família Linguística: Aruak (= Arawak, Aruaque).
- Localização: Brasil (Acre) e Peru.
- População: 70 mil – 120 mil (maioria no Peru).
- Ocupação de territórios da Bacia do Amazonas: há 5000 anos. 



Sobre a imagem: os Ashaninkas sempre usaram roupas de algodão de sua própria fabricação, assim como colares, chapéus etc. Essa foto faz parte da exposição “O poder da Beleza” inaugurada no Dia Internacional dos Povos Indígenas, 09 de agosto, no Museu do Índio no Rio de Janeiro, a mostra apresenta aspectos e elementos da cultura e da estética do povo Ashaninka do Rio Amônia.


Visão de mundo, relação com a terra e com a sociedade brasileira.

- Uso de um calendário sazonal: contato pelo ciclo de reprodução das espécies da flora e fauna, de forma a manter o equilíbrio do ecossistema e garantir uma produção de gêneros alimentícios variados ao longo do ano.

- Uso sustentável dos recursos naturais: utilização dos recursos da natureza sem colocar qualquer espécie em risco de extinção.

- Introdução de produtos da floresta na economia de mercado: temos o exemplo da fábrica de sabonetes feitos de sementes da Amazônia, nesse projeto os Ashaninkas buscam introduzir no mercado não só um produto, mas uma história, repassando assim seus conhecimentos para fora da aldeia através de iniciativas de desenvolvimento sustentável. Buscam valorizar suas culturas e trazer benefícios para floresta, preservando seus recursos e garantindo a proteção das reservas indígenas.

- Associação Apiwtxa: instituição criada pelos Ashaninkas do Rio Amônia para garantir seus direitos, através do uso de um dispositivo legal para negociar e executar seus projetos.


Desenvolvimento Sustentável

= > Uso dos recursos da natureza, mas sempre pensando nas gerações futuras. Pensa-se em todo o processo de produção de uma mercadoria (seu uso e descarte), do início ao fim.

- Os Ashaninkas participam de projetos de reflorestamento e de manejo da flora e da fauna: coletas de sementes de árvores nativas em parceria com a Universidade de São Paulo para revenda no mercado de reflorestamento; uso de sistemas agroflorestais como estratégia de plantio sustentável, promovendo a coexistência simbiótica de espécies nativas da mata e espécies úteis para a alimentação, favorecendo a biodiversidade e a não degradação dos solos, dentre outros.

- A proteção e revitalização dos territórios indígenas e do entorno: só foi possível a partir da demarcação das terras indígenas dos Ashaninkas do Brasil em 1992. Com a passagem de um território flexível para uma reserva fixa com limites, foi possível lutar contra os madeireiros que invadem a região e promover um uso sustentável dos recursos da floresta, através de sistemas agroflorestais de plantio e projetos de manejo da flora e fauna, repovoando a reserva e valorizando as culturas indígenas.


         Por fim, deixamos como reflexão a fala do líder indígena Ailton Krenak, que apresenta o vídeo “Filhos da Terra”, sobre a relação dos indígenas com a terra. Suas palavras nos levam a pensar a importância da demarcação das terras indígenas para que se possa, a partir da reconstrução desses territórios expropriados por uma violência histórica, garantir às sociedades tradicionais o seu modo de vida.

“Desde que os primeiros europeus chegaram aqui, os brancos quiseram comprar as terras dos índios na América toda. (Os índios) Sempre disseram: - Eu não posso vender a terra, porque a terra é a nossa mãe. Esse sentido sagrado tem para todos nós, cada um dos nossos territórios. Então, além dessa dimensão que nós sabemos que nós temos no nosso dia-a-dia que é de buscar nossa comida, o nosso remédio, a nossa cura na floresta, buscar nosso alimento nos rios... Nós sabemos que esse lugar para nós também é o único lugar da Terra onde nós podemos continuar sendo nós mesmos e verdadeiramente ligados com a nossa origem e com a nossa memória ancestral.”
(Ailton Krenak – líder indígena)

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