sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Povos originários do Brasil I

Mapa étnico do Brasil nos século XIV e XV


         Mapa étnico apontando a diversidade de povos indígenas que ocupavam o atual território brasileiro nos séculos XIV e XV.  
       
 Três grandes famílias linguísticas se destacam:
         1. Os Aruaques que habitavam em especial o território da Amazônia, povos sedentários que viviam da subsistência através da horticultura, da pesca e da caça;

         2. Os Jês que habitavam a região do cerrado e viviam em pequenos bandos, eram caçadores coletores e mantinham uma vida nômade.

         3. Os Tupis-guaranis que habitavam a costa atlântica e partes do interior, vivendo da agricultura, da pesca e da caça.   




Primeiros Contatos  

      
            No vídeo “Antes do Brasil, Cabo Frio, 1530” podemos ter uma dimensão dos primeiros contatos entre os povos indígenas e os europeus que aqui desembarcaram no início do século XVI.




Os Tupis (século XVI) - o ritual antropofágico



Tupis e Europeus

- Laços de aliança: escambo, guerras e matrimônios.

- Lógica do conflito interétnica usada pelos portugueses: fatal para os tupis.

- Tupis varridos da costa em menos de dois séculos: violência, epidemias, fome e fugas para o interior.


Unidades Sociais e distribuição espacial

- Região norte da costa brasileira.

- Distribuição em “nações”: Tupiniquins, Tupinambás (ou Tamoios), Temomino, Kaeté, Potiguar, dentre outros.

- Malocas => Aldeias => Conjuntos multicomunitários.

- Conjuntos multicomunitários: estrutura de rede, não há um chefe supralocal, ou aldeia principal, originária, central.


Da chefia

- Estrutura da chefia: cada maloca tinha um “principal”.

- Sucessão da chefia: não era hereditária.


André Thevet, Cunhambebe. Século XVI.*


Obs*: A ilustração acima é de André Thevet, cosmógrafo francês, franciscano, cartógrafo e explorador que esteve numa expedição francesa as terras brasileiras e manteve contato com os Tupinambás (aliados dos franceses). Sua representação de Cunhambebe (uma das lideranças indígenas entre os tupinambás) apresenta um homem com traços grosseiros no rosto, um corpo idealizado (tal as representações renascentista) e aparatos usados do ritual antropofágico como a Ibirapema (arma usada para decapitar o guerreiro que seria sacrificado no ritual), todo esse imaginário do exótico foi vinculado em relatos de viagem muito difundidos nesse período na Europa. 


Guerra e Vingança

- Lógica de belicosidade indígena diferente do europeu (objetivo direto não era conquistar territórios ou ficar com o “butim” de guerra, mas sim capturar o inimigo para o ritual).

- Vingança: nexo fundante da sociedade tupinambá (consagrada através do ritual antropofágico era a única grande cerimônia coletiva; reunia aldeias diversas, redefinia alianças e inimizades)

 - Cativo tinha papel central nas relações interaldeães (era objeto de prestígio, circulavam com ele por aldeias vizinhas, convidando para cerimônia coletiva; produzia a socialização e articulação de casamentos entre as aldeias).

- Discurso sobre a guerra não se distinguia daquele sobre a imortalidade e a abundância (Xamâ = Pajé = Caraíba => Chefes): promessa de imortalidade para o executor e a vítima.


O Ritual Antropofágico

- Evento central da vida social Tupi.

- Articula grupos locais em unidades maiores: “conjuntos multicomunitários”.

- Reafirma alianças e inimizades.

- Socializa ao máximo a vingança.

- Execução em praça pública: honra para o executor e para vítima (promessa de imortalidade).

- Terra sem mal: destino individual pós-morte dos matadores.


Possível gravura de: Theodoro DE BRY (1528-1598). Cena de canibalismo, apartir de "Americae Tertia Pars", 1592.


Obs*: Imagem produzida a partir do relato de Hans Staden (explorador alemão que foi capturado pelos Tupinambás no século XVI, mas sobreviveu e escreveu um relato muito difundido na Europa desse período), apresenta uma visão etnocêntrica do ritual antropofágico. Todos os corpos são iguais, homogeneizados e apresentados comendo pedaços inteiros de um corpo humano, sendo que o ritual tinha uma função simbólica de adquirir a força do inimigo e não servia como base alimentícia. Muitas vezes, sacrificava-se uma única vítima para centenas de pessoas.




“A guerra não conduzia a subjugação, à escravização ou à extração de tributos por uma elite cada vez mais poderosa, que erguia monumentos consagrando seu próprio poder; ao contrário, produzia um movimento centrífugo, voltado literalmente para o consumo de inimigos – não de sua força de trabalho, mas de suas capacidades subjetivas -, sendo que tudo que deles restava eram bens imateriais: nomes, cantos e memória.”

(FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2000, p. 80)












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